domingo, 17 de outubro de 2010

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          O ônibus sempre para nos pontos. A cada parada, diversos novos passageiros entram tomando lugar de outros que finalmente chegam a seus destinos. E nesse ir e vir, certas histórias e detalhes passam quase que imperceptíveis na rota até a última parada, que é o ponto final. Tudo isso é muito pequeno para sequer ser dado importância. Porém, demos importância e espaço somente agora.
          Era final de tarde. O sol dava indícios de que em breve iria se pôr, mas ainda estava em seu auge. Enquanto os raios se refletiam na janela do ônibus, meio vazio por sinal, uma moça bem jovem dormia sentada, cabeça apoiada ao vidro, boca entreaberta e... dormindo feito criança. Dormia com toda a sua força de vontade e nem sequer se incomodava com o balançar e freadas do ônibus. Vez ou outra, raramente, abria os olhos e espiava aonde havia lhe trazido o ônibus. Mas devia de estar muito longe ainda e como o sono falava mais alto, logo se punha a dormir novamente.
          Não muito longe do banco em que a moça estava, um pouco atrás, um olhar inquieto e atento  dava às honras de observar o que se sucedia ali a diante. Um rapaz de porte um tanto distinto, curiosamente observava a moça a dormir. Mas além desse singelo fato, parecia perder-se em pensamentos ao exercer aquele ato. Viajava na moça. E ela nem sequer estava presente, que dirá ciente de que estava sendo vista de longe.
          E o ônibus sempre seguindo em frente. Viadutos, pistas de mão única, um pouco de trânsito, sinais fechados, sinais abertos, placas de velocidade. Passava por favelas, prédios, casas, igrejas, infinitas ruas e diversas avenidas.
          O motorista, a trocadora, a meia dúzia de passageiros distribuídos pelo ônibus e as pessoas a passarem na rua. Todos como figurantes dessa história. A moça a dormir e o rapaz a admirar. O sol prestes a se pôr e toda a cidade como cenário. Dêem-me uma câmera, preciso filmar aquela cena do alto. Em breve vem a noite e nada durará para sempre.
          Ele sabia disso tudo. O rapaz sabia que aquele momento não iria durar muito e que em breve teria de saltar do ônibus. Sabia que em breve haveria de chegar ao seu destino desejado e mesmo sabendo que nada sabia da moça, teria de deixá-la em seu profundo e inocente sono. Sabia que aqueles poucos passageiros iniciais não eram mais os mesmos. Uns já haviam descido do ônibus, dando lugar a outras novas faces. O sol já havia sumido, restando apenas uma claridade que em breve daria lugar a escuridão. Os locais por onde o ônibus passava também não eram mais os mesmos. A única coisa totalmente imutável que sobrou foi a moça, que dormia calma, tranquila e profundamente.
          Histórias passadas em ônibus são realmente muito pequenas frente ao tamanho do universo. Os personagens são sempre muito simples para serem protagonistas de uma história sequer. Uma moça dormindo encostada numa janela de ônibus, um rapaz a observá-la. Mas um ato mudou tudo. E como desfecho, eis que ela se pôs a acordar e, dessa vez, definitivamente. Levantou apressada, ainda meio sonolenta, tocou a campanhia e desceu imediatamente do ônibus, em movimentos totalmente ritmados feito uma valsa ou passos de balé. Tudo isso acompanhado pelo olhar intenso do rapaz.

          O ônibus sempre para nos pontos.

sábado, 9 de outubro de 2010

Perdi meu texto a ser escrito

Perdi meu texto a ser escrito,
Em algum lugar dessa rua
Em algum rosto animado
Ou em alguma ave a voar.

Perdi meu texto a ser escrito
Em algum espaço de tempo
Suficientemente curto
Para carregar meus versos para longe.

E hoje me ponho a pensar
No texto que não escrevi
Que perdeu-se por aí...

sábado, 2 de outubro de 2010

Eleição suja

Rio de Janeiro, véspera de eleição 2010. Esta é uma pequena amostra do trabalho realizado no dia de hoje no meu curso de fotografia. Este material não possui qualquer intenção de propaganda política ou degradação de imagem de algum candidato. As fotos foram feitas aleatórias a este tipo de intenção.