sábado, 25 de dezembro de 2010

Aos que creem no amor

Se o Natal pudesse ser representado por apenas um filme, desses tantos que passam na tv nessa época do ano, este filme seria "Anjo de vidro". Ele reúne diferentes histórias de diferentes personagens, interligados entre si no dia de Natal (assim como a vida real). Alguns dos temas visivelmente tratados são: a solidão, o perdão, a confiança e acima de todos o amor. E esse último tema é algo fascinante e de natureza tão espontânea que atua quase feito mágica nessa época de Natal.

Uma das cenas mais marcantes, porém muito simples, é a cena na qual a personagem está no quarto de hospital, em visita a seu único familiar, sua mãe, que sofre do mal de Alzimer; e apesar de acordada, não reage a nenhum estímulo, estando sempre parada olhando para um ponto fixo o tempo todo. É noite de Natal e todos os familiares estão reunidos, ainda que nos quartos de hospitais. Porém, em frente ao quarto de sua mãe não há festas, nem pessoas, apenas um homem deitado aparentemente dormindo. Ele sempre esteve lá daquele mesmo jeito, nunca houve ninguém ao seu lado de todas as vezes em que a personagem ia visitar sua mãe. E aparecia também sozinho na noite de Natal.

Apesar do dia ser destinado à celebração, a personagem estava só e infeliz naquele momento. E pra completar, a única pessoa que ela possuía, nem sequer a reconhecia. Mas nada disso a impediu de se transpor em um pequeno ato de amor. Dado um momento, levantou-se de sua solidão, caminhou até o quarto à frente na qual aquele homem aparentemente dormia, tomou suas dores e do fundo de seu coração disse: "Eu te amo". Ela realmente o amava. Amava a sua necessidade de cuidados e necessidade de presença. Amava-o porque ele também é uma criatura de Deus e mesmo não acreditando Nele, amava o fato de que Ele ainda assim o amava. Amava-o porque ele simplesmente estava ali e ela simplesmente o amava.

Esse é o sentimento mais importante que existe: o amor. É preciso haver amor para que haja o perdão, a confiança, a verdade. Só o amor desconstrói a desavença e nos torna pessoas melhores.

Que neste Natal, o amor possa fluir cada vez mais espontaneamente de nós mesmos. Que ele possa invadir as famílias e todos os lares, resgatando o maior milagre já existente, a vida.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A festa

"As chances de eu conhecer alguém interessante hoje são mínimas" ela pensava enquanto observava a festa de longe, próxima a varanda do salão. Trajava um vestido longo de tecido fino, perfeitamente costurado cobrindo quase que totalmente o salto que lhe custou caro o suficiente para não ser mostrado naquela ocasião. Mas "caro" não era o problema, estava ainda coberta de acessórios em ouro. Seus longos cabelos estavam milimetricamente presos com a pura finalidade de ressaltar sua linda, jovem e melancólica face (e é claro, não ofuscar o brilho do par de brincos de ouro com detalhes em brilhante em suas orelhas). Estava elegante e impecável, porém, a importância de seu traje não lhe tirava a simplicidade de ser nem de ver as coisas. O local, igualmente importante e fino, também não a fazia mudar. Aliás, muito pelo contrário, aquele ambiente atuava como espelho para que ela pudesse enxergar a si própria verdadeiramente. E esse reflexo a fazia gostar um pouco mais de si mesma.

Apesar de ter algumas certezas consigo própria, nada mudava o fato de que, por algum motivo fatalista, ela estava ali naquele momento, zelando por manter sua essência e integridade, enquanto observava a festa de longe em sua solidão temporária. Não era a mais chic dentre as pessoas dali, mas atraia todos os olhares quando caminhava perdida por aquele enorme salão altamente montado para cenário de seus filmes. Parecia sempre querer se encontrar, ou ser salva, ou fugir. Imaginava-se saltando daquela janela rumo a algum lugar distante, na companhia de alguém que sinceramente lhe compreendesse e também estivesse alheio a tudo aquilo. Mas parecia não haver alheios.

A festa em sua sequência, consumia a todos imperdoavelmente. A iluminação inconstante estava dominada por um jogo de luzes piscantes, acompanhada de músicas eletrônicas dançantes que causavam quase que uma disritmia cerebral numa pessoa com o mínimo de sensibilidade sonora. As pessoas, possuídas pelo ambiente e pelo inconsciente jogo de poses, por vezes desfilavam intencionalmente pelo salão, bebendo e sorrindo enquanto se serviam daquela ração de gente fina. A mesma ração da qual ela também se alimentava e a fazia pensar.

Mas qual haveria de ser o preço pago por ela estar ali? Simplesmente estar, é a resposta. Pois não houve aquela companhia esperada que a salvaria daquele meio. Não houve nenhuma fuga cinematográfica em meio a chuva noturna, com direito a cabelos desfeitos, vestido molhado e brincos e anéis de ouro jogados ao chão da rua. Não houve nenhuma saída triunfal daquele evento, nem heróis, nem sorriso de vitória por experimentar o gosto da chuva frente ao gosto de fugir com quem for que a libertasse. Ninguém a libertou, nem ela própria o fez. Ela se limitou apenas às suas poucas certezas e vãs esperanças naquela varanda vazia, cercada do luxo sem valor daquela festa.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Breve suspiro da madrugada

Pensamos que seria para sempre!

Que ingenuidade a nossa achar que o tempo não tem seu pesar sobre nossos sentimentos, e consequentemente sobre nossas ações. Ou melhor ainda, que pretensão a nossa acreditar que este mundo infinito iria fazer parar tudo ao nosso redor, só porque nos sentíamos merecedores.

Tudo passa... e a questão não é achar que as coisas devem ser para sempre só porque tudo vai bem. Isso é egoísmo de nossa parte. A questão é que tudo se torna eterno o quanto tem de ser...

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Nada como... vizinhos!

          Dia desses, em uma tarde ensolarada e tranquila, estava eu a sair de casa com destino a um lugar qualquer quando a vizinha do prédio a frente chega até mim quase que atordoada, com um olhar de quem desesperadamente pede ajuda:
          - Meu namorado sumiu faz mais de 2 dias! Não atende o celular, não atende o telefone de casa e nem retorna ligação alguma! Eu não sei o que houve!!
          Por alguma razão que eu desconheço, a vizinha, em seu ato de desespero, veio a desabafar comigo naquele momento. Porém, qualquer coisa que eu falasse seria então a minha primeira palavra além de "Bom dia", "Boa tarde" ou "Boa noite" dirigida a essa moça quarentona, cabelos descoloridos, cigarro na mão e dona de um apartamento com vista privilegiada ao meu prédio.
          Tentei me situar por um momento, ignorar o fato de estar com um pouco de pressa e ajudar aquela pobre alma:
          - Mas vocês se falaram antes disso? Ele disse alguma coisa?
          Como se ela precisasse apenas de alguém para lhe dar atenção, aproveitou-se de meu aparente interesse em solucionar seu mistério e continuou:
          - Nós nos falamos na quarta a noite, ele disse que ia passar aqui de tarde para ver o negócio da minha moto mas não veio e nem ligou! Eu ligo pra lá e ele não atende, já deixei milhões de recados...
          - E você não tem o telefone de alguém que o conheça? (não vou nem perguntar sobre msn, orkut...)
          - Eu deveria ter o telefone do filho dele, aí eu poderia ligar - pensativa - e o telefone da venda ao lado da casa dele também. Eu poderia perguntar se eles o viram. Mas não sei o número!
          - E você não pode ir até lá?
          - É... eu estava pensando em ir amanhã se eu não conseguir falar com ele... Eu fico tão preocupada!
          Pobre vizinha, estava aflita. Já nem tinha mais unha pra roer, e só naquela conversa, já havia fumado uns 3 cigarros seguidos. Só Deus sabe o que haveria de ter acontecido ao seu namorado. Lembro-me de tê-lo visto algumas vezes de longe, mas só me lembro dele por causa de seu cabelo comprido e aparência hippie, que me chamaram atenção. Se eu bem deixar minha imaginação flutuar, consigo visualizá-lo sentado num barzinho bebendo cerveja e assistindo a jogos de futebol, sem noção do quanto está fazendo sua namorada sofrer. Homens!
          - Me desculpe por estar desabafando com você. Você deve estar com pressa para fazer as suas coisas!
          - Não não! Não tem problema, eu só gostaria de poder ajudar.
          - Muito obrigada! Você é uma boa menina!
          Sorri. Ela sorriu. Foi pra casa e eu fui para sei lá aonde sem importância.
          No dia seguinte, quis saber se já havia aparecido o tal namorado, mas estava com vergonha de tocar em seu apartamento. Sempre escolhi manter a minha privacidade e a dos outros, ainda que tivesse de passar por mal educada ou desinteressada certas vezes. Resolvi então, deixar de lado essa história e esperar por qualquer dia desses em que nos esbarrássemos na rua novamente.
          Alguns dias depois, estou eu me arrumando novamente para sair, quando chega minha mãe, super interada das últimas notícias do bairro e vem com essa:
          - Soube do namorado da loira da moto aqui da frente? ("loira da moto", nem sabia que este era seu apelido) Então, ele foi parar na delegacia por fumar maconha semi-nu numa praia lá pros lados de Guaratiba. A polícia ainda apreendeu uma enorme plantação de maconha dentro do apartamento dele para uso próprio.
          Fiquei boquiaberta com a história do namorado hippie da vizinha loira daqui de frente. Quer dizer... o cara plantava maconha dentro do apartamento e resolveu do nada sumir por alguns dias levando apenas umas roupas de baixo e muito fumo? E ainda deixa a namorada desesperada sem saber o que aconteceu. Tem cada gente doida no mundo... e o pior, mais perto do que a gente imagina!
          Deixei essa história toda de lado, é o melhor que eu faço. Terminei de me arrumar e saí. Quando estou andando, quem eu vejo adiante, caminhando em minha direção? A tal vizinha!
          - Boa tarde! - disse com um enorme sorriso.
          - Boa tarde! - respondi, passando direto sem muito alarde.
          É... o melhor que se tem a fazer mesmo é ficar só no "Bom dia" "Boa tarde" com quem não se conhece. Sabe-se lá quem são nossos vizinhos...